domingo, 10 de dezembro de 2023

16 ANOS SEM NOSSA QUERIDA ANA CAROL

COMO COMPREENDO A MORTE E COMO SINTO A PRESENÇA DE QUEM JÁ MORREU, E QUE ESTÁ NAS LEMBRANÇAS, EM NOSSAS MEMÓRIAS

https://youtu.be/JVhPrA6zmI8

Há 16 anos vivi o pior momento de minha vida. No fatídico dia 13 de dezembro de 2007, perdi minha querida filha Ana Carolina, aos 10 anos de idade. De lá para cá, claro, muita coisa mudou. Nós envelhecemos, o mundo se transformou radicalmente, e posso dizer sem medo de errar, para pior. Isso não se refere a mim, mas as sociedades, como um todo. Se afunila uma crise sistêmica que passa imperceptível, porque as pessoas vivem suas rotinas e os meios de comunicação procuram formas de evitar considerar a existência de uma realidade tóxica, causada pelo acirramento das contradições nas sociedades.

Algo não mudou, no entanto, na minha rotina após esses 16 anos vividos, mais sofridos do que antes, de lembranças latentes e permanentes. Porque quando perdemos uma filha, ou um filho, jamais esquecemos... nunca esqueceremos. O que não mudou, então, é a nossa permanente presença, sempre no dia 13 de dezembro, em visita à sua sepultura. Outros dois momentos nos levam até lá, a data de seu aniversário, em 05 de março; e no dia dedicado aos mortos, 02 de novembro.

Em uma das crônicas que escrevi para o livro que dediquei a ela, “DEPOIS QUE VOCÊ PARTIU”, eu explico por que não professando nenhuma religião, mantenho essa rotina, ao lado de minha companheira Celma Grace. Ela, diferente de mim, que sou ateu, é agnóstica, e professa a sua espiritualidade à sua maneira.

Infelizmente, para nosso sofrimento e enorme tristeza, já não temos mais nossa filha entre nós. Ela permanece nas lembranças, e na crença dos que acreditam haver alguma forma de experiencia espiritual após a morte. Eu, como materialista que sou, não tenho essa crença, embora respeite quem quer que assim veja o mundo, ou o pós-mundo.

Então o que me leva rotineiramente ao cemitério, a visitar uma sepultura onde o que existe são os restos mortais de minha filha? Sei de outros amigos que passaram pela mesma dor que eu, e adotam outro comportamento. Respeito, pois cada pessoa lida com a morte e com a perda de entes queridos de maneira diferente. E isso não significa sentir menos ou mais essas perdas. Mas representam escolhas de cada uma dessas pessoas, que seguramente carregam dentro de si seus sentimentos sinceros. Não as julgo.

Para mim a morte é algo sempre presente em nossas vidas. Não sabemos quando, nem escolhemos a forma como vamos morrer. Embora alguns resolvam, por questões psicológicas e angustiantes, tirar a sua própria vida. Mas a morte é inevitável, e a única certeza que temos na vida: que em algum momento de nossas vidas cessaremos de existir e morreremos.

Para um materialista, isso para além de me considerar ateu, porque essa é uma denominação “concedida” pelos cristãos, lidar com a morte pode ser mais angustiante do que para quem acredita na espiritualidade, e na existência de uma vida pós-morte. A religião se torna, assim, um refúgio, por onde se aceita a morte e se prepara para ela. Ou, de maneira mais contundente, o espiritismo.

Não creio nisso. A morte, na concepção materialista é o momento em que deixamos de existir para a vida, e o nosso cérebro para de funcionar. Mesmo que por um certo tempo, por meio de aparelhos, partes de nosso corpo ainda funcionem, e por isso são utilizadas para transplantes, já não há mais vida em um corpo onde o cérebro tenha parado de funcionar. Ocorre de, em algumas vezes, haver uma falência múltipla de órgãos, que implicará também no fim daquele corpo. É trágico tratar disso, mas é a pura consequência de nossa existência. De uma maneira, ou de outra, passaremos por isso.

Penso na morte como um sono profundo, definitivo, onde não haverá mais a possibilidade de sonharmos, e do qual jamais sairemos. É o fim, dessa vida. Sem reagir, o corpo padece e se consumirá ou na forma tradicional do sepultamento, ou no método que cresce como escolha, da cremação.

Restarão as lembranças, que estarão presentes nas mentes dos que ficarão vivos, de maneira mais fortes nos primeiros momentos daquela perda, ou de forma significativa pelo resto da vida das pessoas que vivenciaram a história de quem partiu, particularmente os parentes, e mais especialmente em datas específicas. Porque, por mais que amemos aquelas pessoas que já partiram, nossas vidas devem seguir em frente. Porque continuamos a viver.

Mas essas lembranças, os possíveis diálogos imaginários que possamos fazer para quem morreu, principalmente uma filha, não tem a ver com a crença na permanência de um espírito que vaga até encontrar um “paraíso”, onde os encontraremos quando também morrermos. Para mim, se trata de estabelecer um diálogo com minhas próprias lembranças, e de manter sempre presente o amor que sinto pela minha filha, apesar de ela não estar mais entre nós.

Para mim, importa agora tê-la viva nas minhas lembranças, em minhas memórias, principalmente ela, porque perder uma filha um filho, foge do que imaginamos ser a ordem natural de nossas vidas. Esperamos sepultar nossos pais, e desejamos que eles vivam até os cem anos, com saúde. Já nossos filhos e filhas, perdê-los é como retirar partes de nossos corpos. É uma ferida que jamais cicatriza, se mantém aberta, e cuidamos dela de maneira diferente, dependendo de como cada um, ou cada uma, veja a morte. E aprendemos a viver assim.

Não é uma questão de ser religioso ou não, acreditar na espiritualidade ou ser ateu. É um sentimento que extrapola qualquer relação com crenças religiosas. A única coisa que precisamos para manter presente esses sentimentos e essas relações é o amor. Esse é o sentimento que percorre nosso corpo, entre o coração e o cérebro, e nos faz manter nossas lembranças sempre num estágio de permanente presença, que nos faz sonhar até mesmo com quem já não está mais entre nós.

Embora não seja visto assim, o coração tem um papel fundamental nessa relação. Para mim, é lá que está o “deus” que cada um de nós procura. Pode ser um deus de bondade, ou um deus que justifique todas as perversidades, guerras, mortes, crimes. Ele se liga inevitavelmente com o cérebro, e esses dois órgãos agem concomitantemente definindo nossas vidas, nossa forma de ser e o nosso caráter. Não é o que “criamos” pelo nosso cérebro que nos faz ser o que somos. Importa pouco “inventarmos” um deus, se nossos corações estiverem estimulados por ódios e por indiferenças diante das coisas, das outras pessoas e de uma realidade social perversa. Infelizmente, a maior parte da humanidade se refere ao coração de maneira abstrata, figurativa.

Eis porque mantenho minha rotina, mesmo sendo “ateu”, de ir frequentemente ao cemitério, nas datas especiais, para ali, em frente à sepultura de minha filha, travar um monólogo, embora eu queira ser que se trate de um diálogo. Mas é um monólogo. Ela não me ouvirá. Mas do meu coração trato como se ela estivesse ouvindo, e minhas memórias em minha mente, trazem as lembranças de sua vida, no tempo em que esteve conosco.

Essa é a primeira vez, de tantas vezes que já escrevi sobre esses sentimentos que nutro por minha filha, desde quando ela partiu, em que faço referência explícita à minha condição de ateu, ou materialista.

Quero assim romper com essas concepções odiosas, de quem julga por meio de um coração recheado de ódio e intolerância, ser melhor por “crer” em um deus. Ter uma religião, ou acreditar em um deus, não torna as pessoas melhores, nem piores. O que define uma pessoa é o seu caráter. Não é possível imaginar que existe um deus de perversão, que estimule o ódio, que justifique a intolerância e os crimes praticados em seu nome. O que vemos ao longo dos séculos, e milênios, são violências sendo praticadas em nome de Deus. Nessas condições o que determina esse comportamento é a ilusão criada nas mentes, que impõe a essas pessoas um grau de intolerância que a leva a não aceitar que o outro não seja seguidor de suas crenças, e o faz sentir ódio e até matar, com a justificativa perversa que todos tem que acreditar em seu deus.

O materialista não age no sentido de combater de forma odiosa as crenças na espiritualidade ou nos mitos, que a nosso ver, são criados pelo ser humano. Mas visa explicar o mundo pela concretude da vida. Por meio dos sentidos, da objetividade de nossa existência real, daquilo que é comprovável. No entanto, compreendemos que o ser humano sempre precisou da crença em deuses e na existência da vida para além da morte, como forma de serem resilientes diante de adversidades inevitáveis, até mesmo como lidar com a morte. Isso não é necessariamente algo ruim. Se torna ruim quando se transforma numa justificativa para a disseminação de ódio e intolerância, quando se deseja obrigar, por meio dessas crenças, que todos os demais se enquadrem nessas concepções. Isso é o que se chama, doutrinação.

Assim, sigo visitando minha filha em sua última morada. Transportando os sentimentos bons de sua existência para o meu coração e mantendo-a sempre presente ao meu lado. Sofro, choro, sinto tristeza... sua ausência é para mim ainda incompreensível e resultado de uma perversão. Afinal, filhos não deveriam morrer antes de seus pais. Mas cada vez mais não temos como evitar isso, em um mundo transtornado, cujos valores se vão com enorme intensidade precipício abaixo. Doenças como câncer e leucemia, vírus, bactérias, pesticidas, guerras, esses dentre outros elementos nocivos, aliados à própria perversão humana, seguem vitimando crianças em grau insuportável. E, apesar de tudo isso, sinto alegria em alguns momentos, me divirto, mantenho algumas esperanças, porque, como disse, sigo vivo em meio a tudo isso. Só não perco a empatia, mesmo com a frustração por ver o mundo indo em direção oposta a tudo o que sonhei. Eu até posso ser um pouco pessimista, embora me julgue sendo realista, mas a geração de meu filho tem a obrigação de ser otimista, ou de acreditar em um mundo diferente décadas adiante.

No silêncio que cerca a sepultura de minha filha, tento ali me comunicar mentalmente, e nesses pensamentos transmito as minhas sensações sobre o mundo, a falta que ela faz, e fico ainda a imaginar como seriam nossas vidas com ela entre nós, hoje com 26 anos. Seguramente estaria ao lado daquelas pessoas que incansavelmente lutam contra as injustiças sociais, pelos direitos das mulheres, se incorporando às causas antirracistas e por um sistema social mais justo e menos desigual.

Sei que ela seria uma guerreira, como a Mulan, personagem forte da história, ou do folclore, oriental chinês. Em um dos últimos diálogos que travei com ela, ainda antes de ser levada para a UTI, disse que ela era uma guerreira, e perguntei com qual personagem ela se identificava: Mulan ou Pocahontas, filmes que havíamos assistidos juntos. Ela escolheu Mulan. Até hoje vejo e revejo os filmes sobre a Mulan, que eternizo nas lembranças que tenho dela.

Assim, essa rotina, e esse diálogo imaginário com minha filha, persistirá enquanto eu estiver vivo. Lá, onde seu corpo repousa, também estão sepultados meu pai e minha mãe. Também é um sentimento de perda enorme, muitos de nós sabemos disso. Mas nada comparável ao sentimento que ainda sinto, com um misto de revolta, pela morte de minha filha.

A razão da revolta está explícita no texto. Porque sempre considerei que são os filhos que devem enterrar seus pais e mães, e não o contrário. Só que esse é um sentimento, que nem sempre segue o destino que desejamos e muitas vezes não temos como evitar.

Encerro por aqui, mais uma crônica que tem para mim um objetivo claro, amenizar as minhas angústias e saudades de minha filha. Ana Carol está eternizada em nossas memórias, mas merecia ter vivido por muito mais tempo do que viveu. Seguirei, portanto, produzindo textos como esses, mesmo depois de tantos outros que já escrevi e se encontra no meu livro e neste blog Gramática do Mundo. Blog este que foi justamente criado para servir de anteparo, ou de catarse, ao sofrimento que se impôs sobre nós desde sua morte.

13 de dezembro trará, sempre, essas lembranças mais fortes. E os finais de ano, bem como as festas que tradicionalmente festejávamos, jamais serão como eram nos tempos em que Carol estava conosco. Se tornou um tempo frio e sombrio, que procuramos alimentar de esperanças com a presença de nosso filho, de nossos parentes, amigos e amigas. Mas nada será como antes.

Me resta seguir o lema que adotei, e que intitula o meu blog: “Carpe diem quam minimum credula postero!”[1] Até que o amanhã não exista mais para mim.



[1] "Odes" (I, 11.8) do poeta romano Horácio (65 - 8 AC): Carpe diem, quam minimum credula póstero. (Aproveite o dia, confia o mínimo no amanhã).

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

MINHAS AVENTURAS PELAS CERCANIAS DO ANTONIO ACCIOLY, A TOCA DO DRAGÃO

O ano de 1978 foi importante para mim, e, como veremos mais adiante, foi também um ano de destaque para dois outros personagens que se destacaram na Campininha, mais especificamente nas imediações da Rua do Comércio, Travessa G e rua P-25.

Por ali eu aportei nesse ano, vindo do interior goiano, de Morrinhos, onde vivi por cinco anos após chegar da Bahia, nascido que sou em Alagoinhas, recôncavo baiano. Não foi um bom ano para mim, embora importante, por ter vindo pra Goiânia. Mas as dificuldades eram muito grandes para conseguir emprego. Na minha rotina, de todos os dias sair de bicicleta para procurar emprego, a rota era sempre pelo caminho da P-25 que me levava à 24 de outubro.

Minha primeira residência foi em um conjunto de barracões, na rua do Comércio quase esquina com a Senador Jaime. Pouco tempo depois, com a chegada de mais amigos da cidade de Morrinhos, passamos a morar em uma casa na mesma rua, na frente dos barracões. Nosso circuito era dali para a 24 de outubro e nos finais de semana para a Vila Santa Helena. Nesse trajeto que envolve a P-25, a 24 de Outubro e a Senador Jaime, um imenso espaço nos atraía. E às vezes parávamos para ver alguns treinos do Dragão da Campininha. Tempos depois passei também a frequentar o restaurante Salerno, situado sob as arquibancadas do Estádio Antonio Accioly. Quase sempre à noite, para aproveitar de um ótimo escaldado que ali era servido, dentre outras refeições.

Fiquei muito tempo atraído pelos treinos do Dragão, mas sem ainda demonstrar interesse em virar torcedor. Eu tinha uma outra paixão esportiva. Desde minha infância, ainda na Bahia, aprendi a torcer para o Vasco da Gama, como decorrência de disputas de futebol de botão, diversão que nos envolvia bastante, e de forma organizada. Disputávamos torneios, com tabelas, juízes e regras, em jogos de botões de acrílicos. E desde que fui sorteado para ficar com o time da cruz de malta tornei-me torcedor, já são mais de 50 anos como vascaíno. Eu ainda tinha a crença de que deveríamos torcer somente para um time, e me mantinha fiel ao Vasco, paixão que carrego até hoje, e naturalmente morrerei vascaíno, e com uma outra paixão no futebol. 

Mas, como em todos os estados, as rivalidades que chamam a atenção no futebol são as dos clubes regionais, e no caso de capitais, os times que, sendo mais fortes, terminam polarizando e ampliando suas torcidas. Esse é o grande deleite do futebol, a rivalidade. Eu acompanhava de longe as discussões polêmicas e apaixonadas sobre os times aqui de Goiânia, embora eu estivesse bem perto da toca do Dragão. Bem ali ao lado de onde eu morava.

Aos poucos fui entendendo que para participar das resenhas com os amigos, era preciso eu fazer uma escolha sobre qual time eu iria torcer aqui em Goiânia, lugar para onde eu me mudara e acreditava ser aqui o ponto da curva do meu destino. Como de fato foi... tem sido.

Naquela década o dragão, infelizmente não estava cuspindo fogo. Somando-se da última conquista, em 1970, isso falando em campeonatos estaduais (em 1971 foi campeão do torneio integração disputando o título com a Ponte Preta, no estádio Olímpico), o Atlético voltou a ser campeão somente em 1985, em cima do Goiás.

O que pesou a favor do Atlético, foi a rivalidade entre Goiás e Vila Nova, que se acentuava naquele período, porque os dois passaram a polarizar a disputa, e isso me fez distanciar dos dois, já que eu procurava não tomar posição quando os amigos iniciavam uma discussão. E fui sendo empurrado a escolher por qual time eu iria torcer, saindo da polarização que existia na época, e não me importando para o fato do Dragão estar em um jejum tão longo. Afinal, nós éramos vizinhos, compartilhávamos o mesmo bairro, e isso em si já seria um fator preponderante que foi definindo a minha escolha.

O Dragão tinha seus brilhos, além das labaredas que soltava. O final da década de 70 fez surgir uma das melhores duplas do Atlético, e dois dos melhores jogadores goianos daquela década: Baltazar e Gilberto. Gilberto era um craque, com um estilo refinado de jogo que fez despertar o interesse de grandes clubes, indo jogar no Fluminense. Baltazar tinha um faro de gol impressionante, e justamente em 1978 ele arrebentou, marcando 31 gols e se tornando recordista na artilharia em campeonato goiano, depois indo jogar no Grêmio e de lá rumou para a Europa, indo jogar no Atlético de Madri. 

Eu via ali mais um argumento para escolher o Dragão, aqueles jovens atraíam a atenção de uma nova geração, e eu passei a me envolver cada vez mais, participando das resenhas destacando o brilho dos jogadores atleticanos. E minha curiosidade aumentava cada vez que passava pelo Antonio Acioly, cotidianamente, já que eu precisava sair de onde eu morava, na Travessa G, e ia até a 24 de outubro, pegar o coletivo para ir trabalhar.

No entanto havia uma coisa que me incomodava ainda, e talvez por isso eu tenha demorado tanto a assumir ser torcedor de fato do Dragão: as cores de sua camisa principal, o vermelho e preto. Por ser vascaíno isso me incomodava, por me lembrar do rubro negro carioca, maior rival do time da cruz de malta. Eu vivia então o dilema de sentir a atração pelo dragão e me ver preso àquele simbolismo. Aos poucos fui eliminando essa cisma, porque afinal havia outros clubes rubro-negros, como o Vitória da Bahia, o Sport de Recife, o Athletico Paranaense. Dessa forma me aproximei cada vez mais do Dragão, já decidido a ser essa a minha escolha por um time goiano.

Mas houve um fato interessante, que terminou definindo a minha condição de atleticano, e me orgulhando disso. Em 1979, já estando mais tranquilo por ter encontrado emprego, me matriculei no Colégio Objetivo, na Avenida Mato Grosso. Era difícil para mim compatibilizar o emprego com o estudo, pois eu trabalhava como almoxarife em uma empresa de construção civil na Avenida Mutirão, Setor Oeste, e nem sempre conseguia sair a tempo de chegar para assistir a primeira aula.

Ora, o que tem essa minha passagem pelo Colégio Objetivo, com a história de eu me tornar torcedor do Dragão. Pois bem, eu nunca fui muito CDF (os mais antigos entenderão essa sigla), mas preferia sentar-me mais à frente do que no fundo da sala, já que lá quase sempre encontramos os que adoram distrair a atenção dos demais. E naquela turma minha não era diferente. Dentre esses havia dois que se destacavam, e gostavam de “bagunçar” a aula. Esses dois eram ninguém menos que Baltazar, que estava arrebentando em campo, e o Gilberto, outro que estava jogando o fino da bola.

Pronto, me senti em casa e mais próximo ainda do Atlético. Eles bagunçavam de fato, em campo e na sala de aula. Afinal, estavam vivendo um ótimo momento. Eu não consegui me manter no curso, em função dos constantes atrasos, mas os dois também não. Naquele ano um foi para o Rio de Janeiro e o outro para Porto Alegre, e depois fizeram sucesso tornando-se craques e ídolos em seus times.

Assim os deuses do futebol me faziam ficar cada vez mais perto do Dragão, e fui definindo aos poucos a minha condição de torcedor rubro negro goiano. Em 1979 me mudei da vila operária. Só naquela cercania eu morei em três casas, na Rua do Comércio, Travessa G e Rua P-19. Apesar de me mudar daquela região, indo para outra bem distante na parte leste de Goiânia, onde vivo até hoje, meus laços com a Campininha permaneceram ainda por mais tempo, e bem ao lado do Estádio Antonio Accioly. Em 1980 fui trabalhar no jornal Diário da Manhã, que começou a circular naquele ano, e ali trabalhei até 1983, tempo mais do que suficiente para me fazer definir minha escolha e me tornar definitivamente atleticano, com muito orgulho. 

Em 1985, quando o Dragão foi campeão, nossos destinos já tinham sido cruzados. Essa foi uma decisão acertadíssima.

DRAGÃÃÃÃOOO!!!


quinta-feira, 23 de novembro de 2023

OS ERROS DE ESTRATÉGIA DA ESQUERDA BRASILEIRA, NO COMBATE À EXTREMA-DIREITA E AO FASCISMO

Imagem - Site Barão de Itararé

Vou ser duro nessa minha análise crítica. Não propriamente sobre a conjuntura na Argentina, mas sobre como as esquerdas latino-americanas têm se comportado diante das escolhas políticas que precisaram encarar. Para saber como vamos lidar com esse crescimento da influência, principalmente entre as massas populares, da extrema direita, é preciso saber como e porque chegamos até esse ponto. 

Alguma resposta precisa ser dada. Não adianta ficar nos indignando com as escolhas que o povo faz, ou como boa parte desse povo tem incorporado esse discurso fascista... ou neo-fascista... ou neo-nazista... Afinal, vamos culpar aqueles que assimilaram o discurso da extrema-direita apenas tratando-os como ignorantes e alienados? Um rebanho de cegos seguidores de “mitos”, personagens ridículos de uma nova forma de fazer política? Como os apelidaram os cientistas políticos: os outsiders. É essa a explicação para todo esse turbilhão de alterações conjunturais em sociedades radicalizadas politicamente?

Eu aprendi ao longo de minha formação política, desde quando entrei na universidade como estudante, no começo dos anos 1980, que a metodologia mais importante para a compreensão da realidade é a dialética, criada por filósofos na antiguidade, e aperfeiçoada no século XIX por Hegel e depois Marx e Engels. Por essa metodologia, e por essa dimensão filosófica, compreendemos o quanto é fundamental entendermos as contradições que governam nossas vidas, na natureza e na sociedade.

As contradições, o seu choque a partir das lutas dos contrários, o conhecimento da realidade objetiva, compreendendo as causas geradoras dos fatos, seus efeitos e as consequências, nos possibilitam ter a dimensão da realidade objetiva e concreta.

Assim, podemos dizer que não existe nenhum fato que não possa ser explicado a partir de suas causas geradoras. Ele, esse fato, tem uma razão de existir. Não surge do nada, nem podemos conceder ao acaso a condução do processo histórico. O que precisamos é saber fazer uma análise concreta da realidade objetiva. Ponto!

Quero ser enfático em uma questão, pois acredito que é consensual entre os que possuem ligações com a esquerda: desde a virada dos anos 2000, mais especificamente a partir do ataque às torres gêmeas, chegando ao ápice com a crise dos chamado “sub-primes” e da especulação imobiliária nos EUA em 2008, como consequência da ganância que é o motor do capitalismo, o mundo entrou em uma crise econômica sistêmica da qual não se recuperou. De lá para cá o que vemos no planeta é uma forte disputa geopolítica pelo controle da economia, com a disputa pela hegemonia entre grandes potências, principalmente EUA e China. A Globalização mudou de lado, foi demonizada por Donald Trump e defendida por Xi Jin Ping.

Ora, como a esquerda se comportou desde a queda da União Soviética e da crise do chamado Socialismo Real? Substituímos um discurso revolucionário, de questionamento das estruturas do sistema capitalista, como altamente perversa a impulsionar uma vergonhosa desigualdade social, pela disputa eleitoral através dos caminhos da chamada “democracia ocidental”. A fim de atingir o poder político, assumir o controle político e comandar os destinos do nosso país. Assim como também passou a acontecer em outros países.

E deu certo, no aspecto político. Houve uma onda de eleições de lideranças de esquerda assumindo governos na América Latina e em outras partes do mundo. Até mesmo Barak Obama entrou nessa conta. Embora muito do que ele prometeu não foi cumprido. Mas ele foi importante, como os demais governos de esquerda em um aspecto: fez despertar com bastante força a luta identitária, antirracista e do empoderamento das mulheres. Questões importantes, a reforçar a necessária luta dos direitos humanos.

Acontece que o capitalismo não se movimenta por esses caminhos. O que determina a sua essência são as questões econômicas, a base, ou a infraestrutura que constrói todo o arcabouço do sistema. Inclusive no aspecto do sucesso ou fracasso de um determinado governo, seja à direita ou à esquerda.

Então precisamos separar três aspectos. O econômico, o político e o social. Quando é possível a um grupo político alcançar sucesso na democracia? Quando há um fracasso econômico no comando do Estado, levando a que a população passe a ter descrédito por aquele grupo partidário ou ideológico que está à frente do governo. Assim aconteceu por muito tempo, quando levantamos a bandeira anticapitalista, em defesa de um sistema mais justo socialmente, e contra as estruturas construídas dentro da lógica sistêmica capitalista. Bem como no ataque forte e ideológico contra as classes que comandavam, e comandam, o poder econômico seja com as grandes corporações, bancos e indústrias, a burguesia urbana; e contra o grande latifúndio, produtor de monocultura para exportação, perfidamente concentracionista. Passamos a combater cada vez mais o rentismo e o latifúndio. E a esquerda cresceu, à medida em que a crise econômica capitalista se intensificava.

Ora, com o poder político na mão, e o controle do governo seja na federação ou em estados importantes, o que coube a esquerda fazer? Aí podemos usar de forma ilustrativa a metáfora do cachorro que corre atrás dos carros exibindo os dentes para os pneus. Mas o que fazer quando esses veículos param? Não tem o que fazer. Ou pouco há para fazer.

Talvez eu esteja sendo bastante duro, até mesmo nessa comparação. Tudo bem. Mantenho o meu raciocínio. Vamos debater a questão, caso alguém se disponha. Por muito tempo esbravejamos contra o caráter desigual, perverso e concentrador de riquezas do capitalismo, e por isso a esquerda angariou um número cada vez maior de simpatizantes, socialistas ou não. Essas pessoas, através do discurso da esquerda, compreendiam a perversão na lógica sistêmica capitalista.

No entanto, o que se ofereceu para essa massa? O discurso do social, dos direitos humanos, de gênero e do antirracismo. Todas as questões absolutamente importantes numa sociedade desigual e preconceituosa. Mas e quanto às críticas feitas ao caráter perverso, desigual e concentrador do capitalismo? Ou às mudanças na economia que possibilitaria uma melhoria nas condições de vida das pessoas, que veriam não mais o paraíso nos céus, mas a garantia de vida digna na terra?

Deixou-se de lado o discurso antissistema e se passou à absoluta ineficaz tarefa de salvar o capitalismo, ou de pelo menos tentar moderar suas perversões. E, no controle do Estado, a difícil tarefa de lidar com contradições que impunham a necessária subserviência de seus governos aos poderes dos senhores locais, personagens corruptos que por décadas dominam a política passando a herança de suas riquezas e de suas influências políticas para filhos e filhas.

As oligarquias agrárias regionais só se fortaleceram. E passamos a mudar a nomenclatura da luta contra esses segmentos. Deixamos de nominá-los de latifundiários para nos referirmos a agronegócio. Isso é como deixar de classificar os venenos que se espalham pelas produções como agrotóxicos e passar a chamá-los de “defensivos agrícolas”. Esse foi um dos erros, porque o “agro virou pop”, e se tornou a alavanca do PIB nacional. E os fazendeiros latifundiários prosseguiram ampliando seu poder e grilando cada vez mais terras.

Amenizamos as críticas aos bancos, porque eles passaram a ser parceiros importantes em muitos programas e políticas de governos. E se adequaram bem ao discurso de “investimento no social”. A burguesia migrou fortemente para o rentismo e a indústria brasileira foi indo ladeira abaixo, escorada no investimento estrangeiro em novas fontes de tecnologias que, por óbvio, expulsou milhões de pessoas de seus empregos. E lá se vai aumento na concentração de riquezas e de renda.

Fomos perdendo gradativamente nossos discursos revolucionário, à medida em que se percebia a possibilidade de ascensão ao poder, mediante a participação no processo eleitoral. E isso aconteceu, e foi se espalhando.

Mas sem nenhuma mudança no caráter desigual da estrutura do sistema, já em meio a uma crise forte, oriunda de uma globalização fracassada. Os Estados se fragilizaram salvando corporações financeiras, e até mesmo grandes fábricas automobilísticas, e o desemprego foi se espalhando cada vez mais. Ao mesmo tempo, o parlamento majoritariamente conservador insistia em cortar direitos dos trabalhadores, seja no tocante ao trabalho, como na questão previdenciária.

E a esquerda no Poder. Em meio à crise econômica e tentando geri-la. Pois, claro, é papel de quem está no governo. Sendo assim, de pedra nos tornamos vidraças. As pessoas, que acreditaram no discurso da construção de uma nova sociedade, de redução das desigualdades, tornaram-se revoltadas, ressentidas, desesperançadas e fragilizadas em suas condições sociais. Frustradas em suas melhores expectativas de passarem a viver com dignidade.

Isso aconteceu por um tempo, para boa parte da população, por meio de programas sociais importantes, que amenizaram as condições péssimas de vida de dezenas de milhões de pessoas. Mas isso não foi sustentável. Simplesmente porque não é somente sair da miséria para a pobreza que contenta as pessoas no capitalismo. Pior ainda é uma classe média não ser saciada em sua expectativa de chegar ao topo da pirâmide social. Naturalmente ela se radicaliza e joga por terra todo o apoio concedido, se suas expectativas não são atendias.

O que temos assistido neste século é um fracasso econômico dos estados na tentativa de salvar um sistema moribundo, mas que mantém as classes dominantes cada vez mais ricas, no limite de suas vergonhosas contradições, pois isso se dá com um aumento crescente do endividamento da maioria da população. Diante disso, e da impossibilidade de apresentar aquilo que foi oferecido por décadas, de a esquerda assumir o poder para combater a desigualdade que o capitalismo impunha, o que restou aos governos progressistas foi elevar o tom na defesa de questões sociais, radicalizando na defesa de legislações e políticas que pelo menos amenizasse o sofrimento de boa parte da população, sujeita a preconceitos os mais perversos possíveis.

Só que isso despertou, por outro lado, uma extrema-direita que vivia nos porões da política, sem até então nenhum tipo de protagonismo que a colocasse como alternativa ao poder, sempre disputado entre a esquerda, centro e centro-esquerda no espectro político brasileiro, desde a redemocratização do país. Aliou-se ao fundamentalismo evangélico e ao movimento conservador católico carismático, alguns pastores se tornaram parlamentares e construíram um forte movimento dentro e fora do Congresso Nacional, passando a influenciar os rumos da política institucional e a liderar uma malta de pessoas desiludidas, fracassadas e assustadas com a falta de perspectiva e insegurança crescente. Foi fácil arrastar essa turba para engrossar a pauta da extrema-direita, juntando a alta burguesia, os latifundiários e os movimentos religiosos conservadores.

Por outro lado, foi instrumentalizado todo um aparato midiático tradicional e oficial, na defesa dos interesses das camadas dominantes, e uma onda de influenciadores religiosos e outros personagens oportunistas, a fim de desconstruir todo o discurso da esquerda na defesa de um sistema alternativo ao capitalismo. E, mediante a acusação de corrupção (sempre um risco para quem controla o estado) e de usar as instituições para o interesse ideológico, construindo uma falsa narrativa de guerra cultural, disseminando entre a população dúvida e raiva.

A partir de todo esse movimento, e enquanto a esquerda se enrolava tentando gerenciar a crise do estado capitalista, a extrema-direita ergueu o discurso de “anti-sistema”. Numa postura absolutamente hipócrita, porque esse segmento se coloca contra as estruturas políticas e a democracia (embora defensores do autoritarismo e das ditaduras), não contra o sistema capitalista. Mas é uma dubiedade que confunde pessoas que não possuem discernimento suficiente para compreender a dimensão de cada significado desses objetivos. E o discurso “antissistêmico” da extrema-direita passou a envolver principalmente quem por muito tempo era os pilares dos discursos revolucionários: a juventude. Isso foi muito marcante na Argentina, mas também aqui no Brasil.

Mesclando o discurso forte, antissistema, com a pauta conservadora dos costumes, na contraposição às lutas encampadas pela esquerda, e tornada praticamente a principal bandeira de suas ações, a extrema-direita passou a se fortalecer, e, a construir um forte discurso reacionário, na defesa de questões que se imaginava estarem resolvidas, a ponto de surgirem personagens defendendo a aberrações de governos ditatoriais militares. E isso sendo aceito e disseminado na sociedade, desde o topo à base da pirâmide social.

Nessas circunstâncias, não criadas pelas esquerdas, mas pela tentativa de se adaptar-se a elas e amenizar a crise (condição natural para quem assume governo em um Estado capitalista) a extrema direita foi acuando cada vez mais os setores progressistas e a apresentar os mais diabólicos e extremistas personagens, com discursos claramente fascistas, eivados de todos os tipos de preconceitos e fortemente violentos.

Isso levou os setores conservadores a construírem uma base parlamentar enorme, como nunca se viu na política brasileira, e a ganharem eleições nos estados e no governo brasileiro, mas não somente por aqui. Isso já vinha acontecendo pela Europa (Itália, Polônia, Hungria, Grécia...), nos Estados Unidos, e em boa parte da América Latina, até chegar ao mais novo energúmeno a ser alçado à condição de presidente: o histriônico Milei, agora eleito presidente da Argentina, a meu ver, sem muita surpresa. Porque tudo isso que relatei anteriormente, embora com foco no Brasil, aconteceu também na Argentina. E ainda vai acontecer em diversos outros países, enquanto a esquerda não voltar a ter um discurso forte, verdadeiramente contra o sistema capitalista, e apontando objetivamente alternativas a essas estruturas perversas que existem.

Não estou apresentando nenhuma receita, e sei que essa é a parte mais difícil. Mas só sai de uma enrascada tentando entender como se chegou a ela.  E se me prolonguei nessa abordagem, falando o que pra mim por todo esse tempo sempre foi o óbvio (e já escrevi muito sobre isso neste blog), é para dizer que não há surpresa nenhuma no que está acontecendo. A esquerda precisa mudar a estratégia. Como a extrema-direita fez. Para retomar um discurso que já se fazia até as datas iniciais deste século. Ou seja, naquele momento em que as pessoas começaram a acreditar nos discursos e eleger partidos de esquerda para os governos, como consequência da crise sistêmica capitalista.

Não estou sugerindo que se esqueçam bandeiras importantes na luta pelos direitos humanos, nas questões de gêneros ou antirracistas. Mas essas não podem se constituir em embates radicalizados, de importância maior do que aquelas que nos mostrem, de forma geral, quais são as raízes de todos esses males que nos consomem. É necessário que saiamos da especificidade e retomemos bandeiras gerais, de fato antissistêmicas, num enfrentamento ideológico claro, de forma a contribuir com a formação política e intelectual das camada oprimidas, no objetivo daquilo que sempre nos miramos, mesmo que numa esperança utópica, da construção de um sistema mais justo e menos desigual. Apontar as mazelas do capitalismo, mesmo para quem é parlamentar ou está em um governo, deve ser o objetivo de quem se elegeu criando expectativas e estimulando sonhos dos desfavorecidos socialmente, e de uma classe média que por muito tempo apostou nas pautas dos partidos de esquerda.

O combate à pobreza e à desigualdade social não pode ser travado sem deixar claro que essas condições são criadas por um sistema injusto, escorado na ganância e na usura. Só assim poderemos nos livrar dos Bolsonaros e dos Mileis, que podem se multiplicar, caso a esquerda não seja convincente na apresentação de alternativas ao sistema capitalista. E é preciso deixar claro que a extrema-direita não é, nem nunca foi, antissistema. Mas usa de um discurso escorado na falsa e hipócrita defesa de costumes, apoiando-se no medo que se dissemina na maneira como se dá essa comunicação, por meio da religião, embora também reflexo da crise: fragilidade, ignorância, medo e ressentimento, alimentam a extrema-direita e faz ressurgir a sombra do fascismo.

É difícil reverter isso? É. Mais difícil, no entanto, está sendo viver nessa conjuntura política e nessa crise estrutural sistêmica. E enquanto eu escrevia esse texto me deparei com o mais novo trabalho sobre as desigualdades sociais, refletidas no Relatório da Oxfam sobre o consumo dos 1% mais ricos, escandalosamente maior do que os 99% restante. E que “Em 2030, as emissões do 1% mais rico do mundo deverá ser 22 vezes superior ao limite seguro de emissões permitidas”.

Ou seja, não há salvação para a humanidade enquanto perdurar essa lógica que movimenta expansivamente o sistema capitalista. É dever da esquerda retomar seu discurso e sua prática revolucionária antissistêmica. Refazer a utopia, e fazer as pessoas sonharem novamente com um outro mundo, sem essa lógica perversa e desigual que o capitalismo impõe. Antes que seja tarde.

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* Esse artigo foi produzido, com algumas alterações, a partir de um vídeo publicado no Canal do YouTube @ROMUCAPESSOA: https://youtu.be/bEA-2vFPzik


quinta-feira, 16 de novembro de 2023

A RESISTÊNCIA PALESTINA E A OCUPAÇÃO ISRAELENSE – LIMPEZA ÉTNICA, GENOCÍDIO E NEOCOLONIALISMO

Imagem: Blog Outras Palavras

Acompanho com ansiedade de quem conhece a história de luta do povo palestino há 43 anos, desde quando militei ativamente no movimento estudantil, até chegar à diretoria da UNE, onde era forte o apoio à causa Palestina. Isso somado à minha condição há cerca de 15 anos, como professor/pesquisador na área de Geopolítica e Doutor em Geografia. Tenho visto todos os tipos de cobertura da grande mídia tradicional, bem como canais alternativos em sites do Youtube, e uma quantidade imensa de links compartilhados em redes sociais, com opiniões as mais diversas. Também já escrevi aqui no Blog Gramática do Mundo sobre esse conflito em outros momentos, igualmente tensos e violentos. Ao final anexo os links para esses artigos.[i]

Mas, as pessoas se habituaram nos últimos anos a compartilhar notícias sobre fatos que acontecem no tempo presente numa explosão de revolta e indignação. Isso independentemente se a favor, ou contra, um determinado acontecimento. Há sentimentos diversos, tanto mediante postagens perversas, manipuladoras, que tomam um caráter ideológico radical; como aquelas que carregam sentimentos de solidariedades e empatias com a luta do povo palestino contra a colonização do governo sionista israelense; contra a ocupação de seu território há décadas e os massacres que ocorrem ali naquela região do Oriente Médio desde a criação do estado judeu. Essa é a questão, do tempo e da História, numa disputa desigual entre um povo ao qual se nega o seu Estado e se toma seu território, contra um Estado forte, bem armado e apoiado por interesses estratégicos pela maior potência bélica do planeta, os EUA. É preciso conhecer todo esse processo histórico desde suas origens.

Numa época de intensa polarização político-ideológico analisar um conflito intensamente complexo se soma às pressões econômicas e políticas do forte lobbie israelense, por todas as partes do mundo. Naturalmente, nessas condições a “opinião pública”, como sempre, vai sendo formada pelas manipulações midiáticas, acrescidas agora da absurdamente (porque absolutamente contraditória na lógica dessa religião) incompreensível defesa do governo israelense por parte de segmentos importantes da religião evangélica. Os mesmos segmentos que apoiaram o governo de extrema-direita do ex-presidente Bolsonaro.

Em tempo de pós-verdade as opiniões ficam polarizadas, e cada um interessado no tema busca as informações que melhor caracterize suas escolhas ideológicas. Nesse ambiente, tentar ser imparcial é absolutamente impossível. Mesmo para quem procura um viés academicista, dada à condição de professor e especialista na área. Porque o tema nos envolve, principalmente a quem historicamente se dedicou a acompanhar e condenar todo processo de ocupação e colonização, desde os anos conhecidos como “revolução comercial”, quando a burguesia passa a buscar produtos, mercadorias, em continentes até então pouco explorado nessa lógica que se intensificava na Europa, e fez surgir pouco, a pouco, o sistema capitalista.

Esse processo se consolida no século XIX, com a Conferência de Berlim, quando o continente africano é dividido entre as potências europeias, com o seu povo forçado a conviver em estados-nações que obedeciam a linhas demarcatórias de fronteiras ao sabor dos interesses imperialistas/colonizadores.

Mas não para por aí, porque essa disputa pelo controle colonial, que fez fortalecer alguns impérios, levará a uma guerra de proporção mundial logo no começo do século XX. Depois do seu final uma nova divisão da geopolítica mundial se consolida, com os países vencedores, que compunham a Tríplice Entente refazendo as fronteiras, ou tomando controle de territórios dos países derrotados (Tríplice Aliança).

Por que isso é importante para o entendimento da questão Palestina? Porque logo após o final da guerra os países aliados, para consolidar a posição de vencedores, repartiram regiões que estavam sob domínio do Império Turco-Otomano, uma das partes derrotadas, e que dominavam vastas áreas do Oriente Médio, inclusive essa de disputa secular.

Em 1916 o diplomata britânico coronel sir Mark Sykes pegou um lápis colorido e traçou uma linha tosca através de um mapa do Oriente Médio. Ela corria de Haifa no Mediterrâneo, no que é hoje Israel, a Kircuk (hoje Iraque), no Nordeste. Essa linha se tornou a base de um acordo secreto com seu homólogo francês, François Georges-Picot, para dividir a região em duas esferas de influência caso a Tríplice Entente derrotasse o Império Otomano na Primeira Guerra Mundial. (MARSHALL, Tim. Prisioneiros da Geografia. Pág. 147/148)

Assim, o procedimento foi semelhante ao ocorrido na Conferência de Berlim, embora secretamente, mas com os mesmos objetivos: domínios territoriais e controle colonial, inclusive com a definição de fronteiras dos novos Estados-Nações que surgiriam.

Antes do acordo Sykes-Picot[ii] (em seu sentido mais amplo), não havia nenhum Estado da Síria, nenhum Libano, nem Jordânia, Iraque, Arábia Saudita, Kuwait, Israel ou Palestina. (IDEM).

O resultado dessas “costuras” e disputas coloniais foi a existência nesses Estados de governos autoritários, legados pelos colonizadores, em total desconsideração com as características de uma região altamente polarizada pela religião, mas fortemente atrativa para os interesses econômicos, em função da enormes reservas de petróleo e gás. Os governantes, quase sempre subservientes aos colonizadores europeus, ou dos EUA, se alimentavam dessas riquezas e administravam esses novos territórios autocraticamente, impondo-se ditatorialmente sobre o povo. Quando passaram a não atender os interesses imperiais, as guerras híbridas se encarregaram de destroná-los, ou eliminá-los, na hipócrita bandeira de defesa da democracia.

Para compreender o quanto foi nocivo esse processo de colonização, podemos equiparar as situações da Argélia, dominada pela França, e da Palestina, sob controle britânico. Guardando-se, naturalmente, as devidas proporções (isso sem falar na colonização dos países africanos).

Após a Segunda Guerra Mundial, quando se inicia o processo de reconstrução das nações envolvidas no conflito mais diretamente, e também quando começam as lutas anticolonialistas e pela independência, contra a ocupação desses territórios por potências estrangeiras, as radicalizações assumem proporções trágicas, mas a marca mais forte foi da resistência permanente desses povos.

São situações diferentes, naturalmente. A França reprime brutalmente os argelinos, numa condição absurda de dominação e de colonização, com o deslocamento de centenas de milhares de franceses para aquele país. A separação em Argel, capital da Argélia, opunha uma barreira entre duas partes na cidade, apartada, entre um lado europeu, sofisticado e mais desenvolvido, e o lado árabe, mais formado por mão de obra barata e explorada, onde viviam os povos originários. Dezenas de milhares de argelinos foram massacrados, numa longa e árdua resistência, até a conquista definitiva da independência e da expulsão dos colonizadores franceses do território argelino. Somente recentemente a França reconheceu esses massacres.

A luta dos argelinos assumiu duas formas. Da organização política em torno da Frente de Libertação da Argélia com resistência pacífica, mas também, até como reação à prática de assassinatos e torturas em massa pelos franceses, da utilização de um braço armado dessa organização, utilizando-se várias táticas, inclusive com ações terroristas, por meio da explosão de bombas em lugares frequentados pelos europeus. Em 1962 os argelinos conseguem sua independência, pondo fim ao domínio colonial francês, e a decadência de mais esse império. Mas nenhum governante francês jamais foi condenado pelo massacre do povo argelino por todos os anos de dominação colonial.[iii]

A outra parte do acordo Sykes-Picot, que corresponde ao domínio do Império Britânico sobre o Oriente Médio, terminou de forma diferente. Absolutamente fragilizado no pós Segunda Guerra, os britânicos decidem se retirar daquela região, mas permanece por questões estratégicas o interesse em manter sob controle a região, como forma de impedir uma possível influência da União Soviética. A saída foi colocar em operação uma alternativa que já era tentada há tempos, a ocupação de um território, tido como sagrado por três das maiores religiões, com a criação de um estado que pudesse abrigar o povo judeu. Dessa forma atendia aos interesses estratégicos dos EUA e Grã-Bretanha e aos objetivos seculares de judeus espalhados por diversas partes do mundo, principalmente após a tentativa de genocídio que sofreram como consequência da ascensão de Hitler e da criação do III Reich, elevando o anti-semitismo a condição de política de limpeza étnica.

Ocorre que o retorno dos judeus àquela região se deu em um processo de ocupação de territórios já controlados pelos palestinos, e numa área de forte disputa religiosa. Problema que acentua uma situação de disputa geopolítica, pelo fato de ali ser o centro considerado sagrado pelos seguidores dessas três religiões.

Em meio aos embates políticos, a ONU aprova em 1947 resolução que cria o Estado de Israel e delimita suas fronteiras, que não serão jamais respeitadas, com os governos sionistas ampliando o domínio territorial logo após uma guerra com países árabes.

Logo após em seguida a Proclamação da Independência, em 15 de maio (1948), os exércitos de Egito, Iraque, Jordânia, Arábia Saudita, Líbano e Síria invadiram a Palestina e atacaram o recém-nascido Estado de Israel. A chamada Guerra da Independência terminou com a vitória de Israel, que firmou um armistício em 1949, após apropriar-se de 78% do território e 100% das águas da Palestina, incorporando mais 20%, mais 2.500 milhas quadradas às 5.600 milhas quadradas concedidas pela 1947 UN Partition. (BANDEIRA, L. A. Moniz. A Segunda Guerra Fria. (Pág. 469)

Esse foi o primeiro de muitos confrontos envolvendo os países fronteiriços ao novo Estado, bem como a intensificação da resistência palestina. Sempre vitoriosos, Israel, com apoio dos EUA, Grã Bretanha e demais países membros da OTAN, se impôs como potência colonial regional, ampliando a ocupação de terras palestinas, inclusive em territórios definidos posteriormente pela própria ONU, como sendo de domínios palestinos, reconhecido como Estado em 2012, através de uma resolução (67/19), que reconhece a Palestina como um “Estado observador não membro”.

A resistência palestina sempre foi muito forte, alternando com ações militares ou revoltas populares (Intifadas) contra a ocupação israelense, escorada em apoio de países e grupos árabes, ou países não árabes, mas de maioria muçulmana, por todo Oriente Médio e Norte da África. A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) teve um papel destacado nesse processo, até culminar com a morte de Yasser Arafat, suspeita de envenenamento. (MIRHAN, 2022. Pág. 286) 

Quando comecei esse texto fazendo referência à Argélia, é porque após essas vitórias obtidas nos conflitos com os países vizinhos, Israel foi gradativamente ampliando domínios territoriais para além daqueles definidos na resolução da ONU quando de sua criação. O projeto de colonização em curso em muito se assemelha à estratégia da França para ocupação da Argélia. O conflito atual, que explode após uma operação surpreendente do Hamaz, com uma ação violenta que matou centenas de militares e civis, sequestrando mais de duas centenas de israelense (entre militares, mulheres e idosos), tem na ofensiva de Israel a brutalidade que sempre caracterizou essas reações, e aparenta seguir um roteiro previamente estabelecido que consolida a ocupação da Faixa de Gaza, com uma evidente limpeza étnica, objetivando expulsar os palestinos daquele estreito pedaço de território densamente povoado. O bombardeio indiscriminado sobre a população civil, com o assassinato de milhares de crianças e mulheres demonstra, ao mesmo tempo,  que há um interesse que pode ser caracterizado genocida, de eliminar essa parcela majoritária da população, a fim de evitar que futuros jovens, ou os que nascerão dos ventres das mulheres, se transformem em insurgentes e militantes dos grupos de resistência à ocupação israelense.

Mas Gaza não é o único território palestino em disputa na região. A Cisjordânia, definida como parte do Estado da Palestina, vem há décadas sendo ocupado gradativamente por colonos israelenses.

Há cerca de 400 mil judeus vivendo na Cisjordânia. O termo “assentamento” sugere pequenos acampamentos, talvez localizados em colinas altas, varridas pelo vento. Entretanto, embora muitos tenham começado dessa maneira, alguns se transformaram em verdadeiras cidades, em que não faltam prefeituras, supermercados e escolas. As estradas que as conectam umas a outras e a Israel tornam difícil para os palestinos se deslocarem na Cisjordânia ou manterem grandes regiões de território contínuo. Hoje em dia, há também mais de 200 mil judeus vivendo em Jerusalém Oriental, que Israel anexou em 1967, mas que os palestinos reivindicam como a capital de um futuro Estado palestino. Os judeus tendem a pensar em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia como entidades separadas; nas mentes palestinas essa divisão não existe. (MARSHALL, Tim. A Era dos Muros: Porque vivemos em um mundo dividido. Pág.106)

Então, o que temos naquela região é uma justa resistência de um povo que vem perdendo seu território há décadas, num processo de ocupação claramente neocolonial, mediante todos os tipos de pressão, opressão e terror, praticado contra uma população que sofre sistematicamente as pressões terroristas do Estado de Israel. Tendo esse pequeno território de Gaza completamente cercado por todos esses tempos, submetendo-se a todo tipo de controle, no que já estava conhecido como uma prisão a céu aberto, um verdadeiro gueto. No Sul a fronteira fechada sob forte limitação de passagens por Israel e pelo Egito. No Norte um muro que separa os limites com Israel. No litoral do Mediterrâneo todo o controle também é israelense, até para as atividades de pesca. Na outra fronteira, mais longa, que se estende do Norte ao Sul é território israelense, que por mais de 30 quilômetros separa Gaza da Cisjordânia, o outro pedaço do território palestino.

brasilescola.uol.com.br

A faixa de Gaza na verdade é um enclave em território israelense. Apesar de governado pelo Hamaz, que ganhou a eleição em 2006 concorrendo contra o Fatah ou Al-Fatah, que governa a Cisjordânia, praticamente tudo que entra ou sai de suas fronteiras é controlado por Israel. Que invariavelmente entra em conflito com o Hamaz, amplia o número de palestinos assassinados e presos e recua. Por isso a referência a uma prisão. Ninguém sai de lá sem a autorização de Israel, que controla a água, a energia elétrica e até mesmo bloqueia ajudas humanitárias que também são fiscalizadas.

Embora uma organização islâmica, oriunda de um braço da Irmandade Muçulmana, com forte atuação no Egito, e com uma ala militar, atuando desde 1987, O Hamaz foi ungido pela população palestina em processo eleitoral. Por ter o território que governa oprimido pelo Estado de Israel, que impõe restrição de liberdade e mobilidade ao seu povo, faz com que sua resistência seja legitimada inclusive escorada em várias cartas constitucionais de diversos países, bem como nas discussões no campo jurídico internacional, considerando legítimo a resistência a todo tipo de repressão, e de jugo opressor, ao qual é submetido um povo. Tanto internamente, na contraposição a governos ditatoriais, como no combate a um dominador estrangeiro, que controla pela força e coloniza ou escraviza outros povos.

Imagem: Poder 360

Ocorre que, incomparavelmente mais fraco frente ao poder bélico do estado israelense, o braço armado do Hamaz usa como estratégia ações de terrorismo, submetendo ataques violentos que causam a morte de civis israelense, numa radicalização que visa atrair a ira do estado judeu para tornar visível o problema palestino. Mas isso à custa de tragédias que vitimam também milhares de palestinos, principalmente mulheres, idosos e crianças. Desta vez, estranhamente o ataque do Hamaz em território israelense não foi captado pela inteligência daquele país. Muito estranho, visto ser o Mossad um dos serviços de inteligência mais eficaz dentre os demais dos principais países europeus. Sabendo agora que já havia um plano israelense pronto para ocupar Gaza, isso faz com que se busquem explicações para saber se essa “falha” não teria sido intencional, de forma a justificar a barbárie terrorista desse Estado, como resposta aos ataques terroristas do Hamaz.[iv]

A solução já foi apresentada em diversas resoluções, negadas por vários governos israelenses, que não obedecem ao que é estabelecido pela ONU, da necessidade de constituição de dois Estados, a essa altura tese bastante comprometida. Por outro lado, o Hamaz, por ser uma organização paraestatal, não necessariamente se submete às resoluções da ONU.

Ao não impor por suas forças, como de direito, a resolução que criou os dois estados, a ONU se fragilizou, e mediante o apoio irrestrito dos EUA aos governos sionistas de Israel, tornou letras mortas tudo que diz respeito às barbaridades que se cometem nessa disputa, o que sem dúvidas culminará por tornar Israel um Estado pária, e alheio a qualquer deliberação pelos organismos internacionais. Algo que aliás já vinha fazendo. Os crimes de guerra são ignorados, o Tribunal Penal sucumbe aos objetivos estratégicos do bloco europeu-estadunidense e a hipocrisia comanda as decisões de uma organização completamente desmoralizada em seus objetivos. Putin foi condenado em Haia acusado de retirar crianças de áreas que estavam sendo bombardeadas; já no caso do ataque israelense à Gaza, temos mais de 5.000 crianças mortas e um quase igual número de mulheres, inclusive grávidas, e nenhuma acusação sobre esses assassinados por parte desse Tribunal.

Em não havendo possibilidades de acordos que garantam o direito do povo palestino, e considerando que essa luta extrapola as questões territoriais e envolve interesses estratégicos na disputa pelo petróleo e gás, e, numa gravidade sempre presente, a questão religiosa, pode-se considerar a hipótese de uma grave extensão regional desse conflito, que, pelas condições em que vive o mundo certamente levará a uma terceira guerra mundial.

Até lá, o mundo que se acaba é a Palestina. Submetida há décadas a ataques covardes, a eliminação de jovens tanto pela execução militar como pela prisão e consequente retirada de sua liberdade e de seus direitos. Seja numa prisão israelense ou no que se transformou perfidamente a Faixa de Gaza, num processo de expulsão, eliminação étnica e, inegavelmente, de genocídio de um povo. Como já acontecido com outros povos ao longo da história, inclusive na tentativa de eliminação dos judeus durante o regime nazista de Adolf Hitler. No que repete agora o sionismo, numa tragédia representada pela farsa de reivindicar direito de defesa, quando é o próprio Estado de Israel quem está sempre a colonizar, atacar, oprimir e destruir vidas palestinas.

Para finalizar, uma observação sobre a cobertura vergonhosa da mídia tradicional, dos grandes canais aberto ou a cabo. As notícias sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia chegam até nós com informações do lado ucraniano, que teve seu território invadido. Na guerra muito mais desproporcional entre Israel e a Palestina as notícias são dadas pelo lado do invasor. E, descaradamente, quando os repórteres falam algo sobra destruição em Gaza dizem que “as informações não podem ser comprovadas de maneira independente”. Mas essas mesmas redes expõem imagens feitas por soldados israelenses, ou por jornalistas que acompanham com autorização a tropa, cujas imagens são selecionadas e submetidas a censura para serem compartilhadas. Para essa mídia vendida aos lobbies israelenses, o opressor e colonizador é que merece credibilidade.

E, hipocritamente, assim caminha a humanidade.


[i]

CRISE NO ORIENTE MÉDIO – A CRIAÇÃO DO ESTADO PALESTINO https://gramaticadomundo.blogspot.com/2011/09/crise-no-oriente-medio-criacao-do.html

ISRAEL MASSACRA PALESTINOS E AMEAÇA INVADIR A FAIXA DE GAZA

https://gramaticadomundo.blogspot.com/2012/11/israel-massacra-palestinos-e-ameaca.html

MAIS UM MASSACRE EM GAZA, O OCASO DA PRIMAVERA ÁRABE E A TRANSIÇÃO PARA UMA NOVA ORDEM MUNDIAL

https://gramaticadomundo.blogspot.com/2014/07/mais-um-massacre-em-gaza-o-ocaso-da.html

A GUERRA CONTRA O TERRORISMO, AO INFINITO E ALÉM

https://gramaticadomundo.blogspot.com/2014/09/a-guerra-contra-o-terrorismo-ao.html

[ii] https://geographicmind.com/en/el-acuerdo-sykes-picot-una-linea-para-dominar-oriente-proximo/

[iii] Um filme clássico, do diretor Giulio Pontecorvo, mostra de forma competente um resumo dessa história: “A Batalha de Argel”.

[iv] https://sul21.com.br/noticias/internacional/2023/10/presidente-da-federacao-palestina-no-brasil-acusa-israel-de-fazer-limpeza-etnica/


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BANDEIRA, Luiz Alberto Muniz. A Segunda Guerra Fria. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013

BRAUDEL, F. Gramática das Civilizações. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

MARSHALL, Tim. Prisioneiros da Geografia. Rio de Janeiro: Zahar, 2018

_____________. A Era dos Muros. Rio de Janeiro: Zahar, 2021

MIRHAN, Lejeune. Atualidade da luta anti-imperialista. Campinas-SP: Apparte, 2022